Big techs no setor financeiro

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No dia 25 de março, a Apple anunciou sua mais recente investida no mercado financeiro: o Apple Card. Em parceria com o banco norte-americano Goldman Sachs e com a Mastercard, a fabricante de celulares e computadores vai oferecer seu primeiro cartão de crédito. Desde 2014, a empresa oferece o ApplePay, uma carteira digital na qual os donos de iPhones podem cadastrar seus cartões para realizar compras online e em locais físicos. Enquanto outras gigantes, como Amazon e Google, também disponibilizam suas próprias soluções de meios de pagamento – respectivamente, Amazon Pay e Google Pay –, essa é a primeira vez que uma das big techs, maiores empresas de tecnologia do mundo, oferece crédito aos seus usuários.

O Apple Card estará no mercado ainda este ano. Segundo a vice-presidente da Apple Pay, Jennifer Bailey, os usuários terão taxas de juros menores do que cartões de crédito comuns. Entre outras vantagens anunciadas pela empresa, os titulares do cartão receberão um cashback – ou seja, um retorno em dinheiro de parte do valor gasto – no mesmo dia em que realizarem as transações, e esse crédito poderá ser gasto em novas compras no mesmo instante.

O novo cartão de crédito colocou um holofote não apenas sobre a Apple, mas também sobre todas as big techs, que têm o potencial de fisgar uma grande fatia do mercado financeiro. Se a vantagem competitiva dos grandes bancos está na quantidade de clientes – e, em especial, naqueles que pagam suas contas em dia e consomem produtos e serviços das instituições –, o mesmo vale para as empresas de tecnologia. A diferença é que estas últimas podem estar mais bem preparadas para analisar os dados de sua rede de usuários.

Clientes e dados

O Itaú, maior banco brasileiro, possui uma carteira de cerca de 50 milhões de clientes. Quantos usuários tem o Facebook, a maior rede social do mundo? Mais de 2 bilhões. Imagine agora se o Facebook decide lançar um serviço de pagamentos peer-to-peer, por meio do qual as pessoas possam fazer transferências em tempo real umas para as outras, pelo aplicativo do celular? E se o Facebook passar a oferecer crédito, como a Apple está fazendo? Exceto por aqueles usuários que confiam mais nos bancos do que numa rede social, a empresa terá uma carteira imensa de clientes, de quem coletará dados diariamente.

O Google também coleta dados de seus usuários por meio do Gmail e do Google Maps, entre outros serviços. A Amazon, em especial nos Estados Unidos, armazena informações de compras como gastos e endereços de entrega. Cada uma dessas empresas possui uma infinidade de informações e, mais do que isso, a tecnologia necessária para analisá-las e gerar conhecimentos relevantes sobre a vida financeira de seus usuários. Assim, as big techs poderão estudar profundamente cada um de seus clientes e oferecer produtos personalizados para seu perfil e suas necessidades.

Utilizando as tecnologias e as bases de dados, as big techs também são capazes de criar uma experiência de usuário mais simples que a oferecida pelas instituições tradicionais e acompanhar seu comportamento financeiro. Com avaliações de risco mais precisas serão capazes, por exemplo, de oferecer taxas de juros mais baixas ou ser mais precisas na decisão sobre limite de crédito.

Troca de mensagens

Já que estamos falando sobre a inserção de empresas de tecnologia no setor financeiro, não podemos deixar de mencionar o caso mais bem-sucedido (até agora): o WeChat. O aplicativo de mensagens foi lançado na China em 2011. A partir de 2013, a empresa passou a disponibilizar um sistema de pagamento peer-to-peer, porém sem a necessidade de cadastrar cartões de crédito – pouco difundidos no país. Para realizar transações, basta o usuário ler o QR Code – espécie de código de barras –, inserir o valor a ser pago e colocar sua senha.

Hoje é possível pagar por produtos e serviços dessa forma em praticamente todo o território chinês, de refeições até o aluguel. Em 2015, a Tencent, companhia por trás do WeChat, lançou o primeiro banco privado digital do país, o WeBank. Seguindo o mesmo caminho da concorrente chinesa, o Facebook está tentando colocar um sistema de pagamento no WhatsApp. Em 2018, a empresa disponibilizou o serviço para uma pequena parcela dos usuários da Índia como um teste. Em breve, é possível que teremos diversos pagamentos sendo realizados pelo aplicativo – assim como em outras plataformas.

Alguns entraves

O principal desafio para essas empresas lançarem seus serviços financeiros será a regulamentação. Cada país possui seu conjunto de leis específico sobre como as transações financeiras devem funcionar, e as big techs terão de se adaptar a elas.

Além disso, há também as leis de proteção à privacidade, como a GDPR (Regulamentação Geral de Proteção de Dados) na Europa, e a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil. Com essas legislações, ainda não se sabe se as empresas poderão utilizar as informações coletadas por suas diferentes funcionalidades – como Google Maps e Amazon Key – nos serviços financeiros.

Outro obstáculo é a falta de confiança que uma parcela dos usuários terá em realizar transações utilizando cartões de crédito ou contas nos aplicativos. Afinal, os bancos são mais conhecidos e percebidos como seguros por seus clientes. Uma saída, adotada pela Apple para oferecer seu cartão de crédito, é que as empresas de tecnologia firmem parcerias com instituições tradicionais para lançarem seus serviços. Dessa forma, há ganhos para as duas partes: o banco poderá oferecer serviços para mais pessoas e a empresa de tecnologia terá um nome forte do setor como uma garantia de confiança no negócio.

Mas com a Apple dando a largada nessa nova corrida, é uma questão de tempo até que outras gigantes, como Amazon e Google, lancem outros serviços vinculados às suas respectivas wallets.

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*Rogério Melfi (Gerente do Programa de APIs do GR1D) e Ítalo Lare (Product Manager Finance do GR1D)

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